Podemos reduzir o risco de Alzheimer só ao mudar o estilo de vida
O diretor da Faculdade de Ciências da Universidade do Texas é, possivelmente, a pessoa que mais sabe sobre Alzheimer no mundo. O lusodescendente George Perry tem o recorde de estudos publicados sobre a doença, assinou mais de mil publicações científicas e foi citado cerca de oitenta mil vezes. Mas o investigador é também uma das vozes mais rebeldes sobre o tema. Garante que há esperança na prevenção, mas lembra que ainda estamos longe da cura.
Defende que é essencial olhar para o stress oxidativo, que já estuda há décadas. O que é?
O stress oxidativo é muito complexo. Podemos usar a comparação do enferrujar de um prego de ferro. O oxigénio no ar reage no nosso corpo e causa danos exatamente como faz com o prego. Mas o corpo tem defesas abundantes contra este processo – há cerca de 25 anos descobrimos os danos e as defesas no caso da doença de Alzheimer. Estamos a estudar o processo e a tentar perceber como podemos controlá-lo para ajudar os pacientes.
É uma parte importante do puzzle da doença?
Sim, é uma parte muito importante. Podíamos ter dito que o stress oxidativo é como a beta‑amiloide – ou seja, que causa a doença –, mas eu nunca acreditei nisso. O stress oxidativo é parte do envelhecimento celular e há uma série de alterações que implicam com o equilíbrio oxidativo, como a nutrição, o exercício e o stress. É como um centro recetor.
Isso quer dizer que se fizermos mudanças de hábitos podemos prevenir o Alzheimer?
Prevenir não, mas reduzir o risco sim. Há vários estudos que provam uma redução entre 50 e 90 por cento só ao mudar o estilo de vida. E quanto mais cedo na vida fizeres as mudanças, maior o benefício. Escrevi um “paper” há pouco tempo sobre os quatro pilares para a doença de Alzheimer: dieta, exercício, redução do stress e ter um sentido para a vida.
Como é que o exercício ou uma boa alimentação podem fazer a diferença?
O exercício ajuda o cérebro a renovar‑se e não é preciso um esforço extremo. As pessoas mais velhas podem cumprir o requisito, que é de 45 minutos de caminhada por dia. Além disso, a dieta rica em nutrientes, que contenha fruta e vegetais, que têm um papel complexo.
Podemos estar próximos de uma cura?
Ainda não chegámos aí mas temos boas pistas. E a questão da influência do estilo de vida é a descoberta mais entusiasmante dos últimos anos. Também já se encontraram diferenças na incidência do Alzheimer entre grupos nos EUA – afro‑americanos versus hispânicos, etc. É pouco provável que seja genético. Tem que ver com hábitos alimentares, com estrato social, com acesso à educação e saúde. E que conclusão podemos tirar? Que a dieta como o exercício também podem ser um medicamento.
Notícia da Notícias Magazine